28.2.07

"O Livro do Desassossego"

Fernando Pessoa, na sua diversidade, é todo ele uma literatura. Figura ímpar nas Letras portuguesas, a sua mensagem tem uma universalidade única. De entre a vasta obra do poeta, destacaria O Livro do Desassossego, composto pelo seu semi-heterónimo, Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
Recuemos a 1913, 20 de Janeiro. Nesse dia o poeta redigiu, numa folha solta, como era usual nele, o poema Dobre. Junto ao texto, terá rabiscado, em letras enormes, o título Desassocego. Assim mesmo, com grafia antiga, com um traço bem vincado.
Aqui deixo esse poema, texto iniciático dum livro imprescindível em qualquer biblioteca.
Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão.
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida.

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27.2.07

Humor

Talvez seja conhecida a estória...mas como a recebi apenas hoje, aqui vai:
Numa manhã, a professora pergunta ao aluno:
- Diz-me lá quem escreveu "Os Lusíadas"?
O aluno, a gaguejar, responde:- Não sei, Sra. Professora, mas eu não fui.
E começa a chorar. A professora, furiosa, diz-lhe:
-Pois então, de tarde, quero falar com o teu pai.
Em conversa com o pai, a professora faz-lhe queixa:
-Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu "Os Lusíadas" e ele respondeu-me que não sabia, que não foi ele...
Diz o pai:- Bem, ele não costuma ser mentiroso, se diz que não foi ele, é porquenão foi. Já se fosse o irmão...
Irritada com tanta ignorância, a professora resolve ir para casa e, na passagem pelo posto local da G.N.R., diz-lhe o comandante:
- Parece que o dia não lhe correu muito bem...
- Pois não, imagine que perguntei a um aluno quem escreveu "Os Lusíadas" respondeu-me que não sabia, que não foi ele, e começou a chorar.
O comandante do posto:- Não se preocupe. Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um "aperto", vai ver que ele confessa tudo!
Com os cabelos em pé, a professora chega a casa e encontra o marido>sentado no sofá, a ler o jornal. Pergunta-lhe este:
- Então o dia correu bem?
- Ora, deixa-me cá ver. Hoje perguntei a um aluno quem escreveu "Os Lusíadas". Começou a gaguejar, que não sabia, que não tinha sido ele, e pôs-se a chorar. O pai diz-me que ele não costuma ser mentiroso. O comandante da G.N.R. quer chamá-lo e obrigá-lo a confessar. Que hei-de fazer a isto?
O marido, confortando-a:
- Olha, esquece. Janta, dorme e amanhã tudo se resolve. Vais ver que se calhar foste tu e já não te lembras...!

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Agressão a professora

Noticia a imprensa diária que, numa escola da cidade do Porto, uma professora foi barbaramente agredida pela mãe de uma aluna. Teve de receber assistência hospitalar, escoriações várias pelo corpo todo. Infelizmente, não é caso isolado. Casos como este começam a tornar-se assustadoramente frequentes. A referida professora não deve estar em condições de exercer funções durante algum tempo. Muito menos naquela escola.
A pergunta que coloco é muito simples, mas também provocadora: para os burocratas do ministério da (des) educação será justo, razoável, humano, contabilizar as possíveis faltas da docente para efeitos de progressão na carreira, como tudo indica irá acontecer com a regulamentação do Estatuto da Carreira Docente?
Os monstrozinhos que ocupam o poder serão seres humanos ou uma qualquer máquina trituradora de pessoas e consciências? Mas que valores e que raio de sociedade é que estes senhores preconizam?

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Brincar com o fogo!

As pessoas que mais de perto convivem comigo, sabem que fui apoiante da iniciativa de Bush na invasão do Iraque. As razões assentaram em pressupostos que considerei os mais correctos e adequados às circunstâncias. Tomei posição pública e não me escondi em subterfúgios mais ou menos cobardes. Aquilo que se seguiu foi um completo desastre, reconheço-o.
Vem esta introdução a propósito do jogo perigoso que se desenha a propósito da intenção do Irão em desenvolver armas nucleares. As vozes do politicamente correcto dirão que tem todo o direito. Pois sim. Mas esquecem a natureza ditatorial do regime, esquecem o radicalismo extremista, o fanatismo e a fácil manipulação das massas populares, o poder discricionário de uns quantos sem qualquer escrutínio de orgãos democráticos. E isso faz toda a diferença para os países democráticos onde existe semelhante recurso nuclear. Onde orgãos eleitos fiscalizam, uma imprensa livre denuncia, a opinião pública se manifesta. É pura demagogia comparar o Irão e os Estados Unidos, por exemplo.
Isso não invalida que eu não considere perigoso o jogo de ameaças que se verifica, de momento, entre estes dois países. Quando se preparam máquinas de guerra para possíveis invasões, e se fala nessa hipótese com alguma ligeireza, devemos encarar as coisas com preocupação. Espero que o bom senso prevaleça e a via do diálogo se sobreponha a quaisquer outros interesses pessoais e de domínio territorial.

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Pirata da educação

Em tempo de óscares, iniciativa interessante do sindicato dos professores da região centro. Eleger os piores actores no campo da educação. Para votar, clique aqui.

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25.2.07

O inefável Daniel Oliveira!



O bloquista Daniel Oliveira tem pretensões a imitar o chefe, o incorruptível e moralista-mor do Reino, Louçã de seu nome. Desde que lhe deram trela, dasatou a palrar que nem papagaio e a maioria das vezes só diz disparates. Que os diga no Eixo do Mal, programa residual da SIC Notícias, ainda vá que não vá. Ainda não perdi a esperança de ver o Nuno Júdice, numa qualquer noite, atirar-lhe com o microfone...

Mas desde que um jornal de "referência", no caso o Expresso (ver edição de 24 de Fevereiro p.p.), lhe deu tribuna livre, o homem perdeu o tino. Ou então quer rivalizar com Jardim nas diatribes e boçalidades. Entre outros dichotes, diz a luminária:

  • "Poderia indignar-me. Mas é-me indiferente. Tanto me faz o que aconteça à Madeira. Se se afunda em dívidas, se conquista a independência, se declara Jardim rei Momo vitalício. Desde que não continue a estourar o dinheiro que faz falta às regiões mais pobres do país, a Madeira é um problema dos madeirenses."

Não sei o que o Bloco de Esquerda anda a fazer na Madeira. Concorre a eleições? Deserta? Boicota? Vai lá passar férias? Faz campanha eleitoral com dinheiros públicos ou com fundos partidários?

Isto é, estes senhores abespinham-se quando encontram um Jardim que lhes responde à letra e, no fundo, recorre a métodos que estes abencerragens gostariam de usar se um dia lhes dessem votos para isso. Elucidativo é o caso de corrupção na Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, única em que o Bloco de Esquerda é poder. Por que razão não pedem a demissão da presidente?Que interressa, portanto, a esta gentalha o povo madeirense? Que se amanhem com quem lá têm...Alberto João de seu nome.

Mas pegando em temas tão ternurentos para esta esquerda salóia, pergunto ao douto senhor Daniel Oliveira:

  • Que tenho eu a ver com os iraquianso e com o senhor Bush? Ou com o senhor Chavez? Ou com os separatistas bascos? Ou com os palestinianos?

Com certeza menos que o senhor Oliveira com os madeirenses...

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A ETA e o terrorismo!



Mais uma manifestação em Madrid contra o terrorismo da ETA. Foram várias nos últimos tempos. Para quem não sabe aproveitar a janela de oportunidade proporcionada pelo actual governo espanhol, e continua a usar a violência como único recurso, não pode merecer credibilidade. Mais grave é a paciência das pessoas começar e esgotar-se e, mais tarde ou mais cedo, serem seduzidos por um qualquer caudillo. O caso Le Pen, em França, devia merecer mais atenção.
A causa próxima para mais este protesto prende-se com uma redução de pena para o terrorista basco Iñaki de Juana Chaos, condenado a TRÊS MIL ANOS de prisão, dos quais cumpriu cerca de 18. Mais desenvolvimentos aqui.

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A corrupção autárquica

O poder autárquico desempenhou e continua a desempenhar papel importante na vida política portuguesa. Num país com forte tradição municipalista, conseguiu suprir, ao longo das últimas décadas, necessidades básicas das populações, esquecidas durante anos e anos pelo poder central. Apesar disso, instituiu, muitas vezes, um caciquismo reprovável e uma teia de poderes paralelos e compadrios que minam a sua credibilidade e são um contínuo desperdício de dinheiros públicos.
Entre muitos outros casos, estes dois exemplos comprovam o que acabei de afirmar.

  • A Câmara Municipal de Ponte de Sor está a ser alvo de um inquérito do Ministério Público. O motivo é o pagamento de milhares de euros gastos em chamadas para linhas eróticas, feitas a partir de um telefone de apoio à presidência da própria Câmara. Não será dificuldade maior encontrar o responsável…Será o município ressarcido do dinheiro gasto? Ou a culpa morrerá solteira, como é costume neste País de merceeiros?

  • Outro caso paradigmático vem denunciado nas páginas do Correio da Manhã, deste domingo, numa entrevista à vereadora Maria José Nogueira Pinto, na Câmara Municipal de Lisboa. Segundo ela, um outro vereador, um tal Sérgio Lipari, terá 32 – TRINTA E DOIS – assessores nos seus gabinetes. É obra! É evidente que não estarão todos ao serviço dos cidadãos, antes como coutada política de um qualquer aparelho partidário.
    Haja decoro!

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24.2.07

Canção de Embalar!



(Apesar da má qualidade do video, fica o mais importante: a voz!)

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Tributo a Zeca Afonso

Passaram vinte anos sobre o desaparecimento de Zeca Afonso. Figura emblemática no antes e pós 25 de Abril, lutador contra a ditadura salazarista, cantor de intervenção, simples baladeiro, intérprete singular da canção coimbrã. Por mero acaso, tive a oportunidade de o conhecer pessoalmente. Ainda estudante em Coimbra, frequentei assiduamente a secção de xadrez da Associação Académica de Coimbra. Um dia, fui convidado para fazer uma simultânea de xadrez no Centro Bento de Jesus Caraça, numa vila alentejana que já não recordo. No jantar de comemoração do referido Centro, ele e a esposa estiveram presentes. Por ter ficado sentado ao lado da esposa, troquei com ela palavras de circunstância. Mas a minha curiosidade centrou-se na figura do Zeca. Quase não se sentou. Petiscando aqui, dando um dedo de conversa mais além, ia deambulando pela sala. O seu olhar era vago, ausente, parecendo alheado de tudo e de todos. No entanto, "sentia-se" a sua presença. Uns anos mais tarde, revi-o em Coimbra, já bastante debilitado pela doença. Vinha a sair da Faculdade de Letras, amparado pelo esposa...
Embora distanciado dele politicamente, sempre distingui o plano meramente partidário da importância que teve no campo da música e da cultura. Daí, a simples homenagem que lhe presto.

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23.2.07

Carta aberta à ministra da educação!

Ando farta de remoer estas coisas e chego sempre à mesma conclusão: sou Professora (e adoro sê-lo, mesmo com todas as contrariedades que ser Professor hoje tem), mas antes do mais, sou Mulher e sou Mãe.
Fiz-me Professora por gosto (em Portugal, na minha altura, e depois de se ter tirado um curso superior, AINDA se podia fazer outras coisas..!) e,como tal, tenho dado o melhor de mim mesma a todos aqueles que, ano após ano, me passam pelas mãos. Mulher, já nasci, e a História me diz quanto lutaram, mulheres como eu, para ter os direitos que tenho.Usufruo-os com a consciência de que para sermos dignos dos nossos direitos, devemos cumprir, antes demais, os nossos deveres. Sou Mãe porque quis sê-lo e na convicção de que as responsabilidades e satisfações inerentes à maternidade, me realizariam plenamente como mulher. E sinto-me realizada.
Mas agora, de repente, querem roubar-me de uma assentada regalias adquiridas, expectativas formadas, direitos fundamentais, inclusive o direito de ser Mãe! E o que é estranho, quem me quer roubar tudo isto é Mulher como eu. Mulher sim, mas com "m" minúsculo. Professora, não é com certeza...Mãe, seguramente não.
Lamentável, Sra. Ministra, o seu contributo para a crise da Família, da Escola, da Educação. Lamentável, este baile de máscaras, em que nada é o que parece, porque V. Exª diz aquilo que não é e afirma ter objectivos que o não são. Lamentável a sua postura rígida, a sua indisponibilidade, a sua ausência de sorriso, o seu deficit de simpatia, enfim, a sua tremenda cara de pau.
Não há nada mais antidemocrático que a sua posição prepotente. Mas acho que a senhora já esqueceu há muito o que é a democracia ou que foi alguma vez socialista (?!). Como Professora, não quero - nem milhares de outros como eu - as suas imposições. Nem lhe reconheço a autoridade para mas fazer: a senhora não sabe, não imagina longinquamente, não conhece, nem quer conhecer, a realidade do ensino básico.
E só a propósito de faltas: Como Mãe, quero poder assistir a minha filha em caso de doença, sem sofrer por isso penalizações. Saberá V. Exª que é comum as crianças sofrerem de doenças infecto-contagiosas (sarampo, varicela, papeira...)?Saberá que nos infantários não as recebem nessas condições? Que muitos de nós não têm com quem as deixar? Não, a senhora não sabe nada, porque não é, nem nunca foi mãe. Nunca passou uma noite em claro ao lado de um filho doente, nunca se afligiu com uma febre alta e umas convulsões, nunca dormiu sentada numa cadeira à cabeceira de uma cama de hospital. Mas mesmo sem ter passado por isto podia compreendê-lo, se tivesse sensibilidade e respeito por quem conhece estas coisas por dentro.
Para si:
Um bom professor é aquele que nunca falta, ainda que falte aos seus deveres de Pai ou Mãe.
Um bom professor é aquele que coloca os alunos e a escola emprimeiro lugar, ainda que abandone os filhos e a Família.
Um bom professor é aquele que nunca adoece, ainda que a doença não seja escolha dele.
Um bom Professor está sempre na escola para receber os Pais, mas não pode faltar para ir à escola tratar dos assuntos dos filhos.
Um bom professor não pode ter filhos, não pode ter pais, nem doenças de qualquer espécie. Nem vida própria de preferência.
Sra. Ministra, a SENSIBILIDADE ficava-lhe tão bem!
( Carta recebida por mail)

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22.2.07

A sinistra ministra ataca de novo!

Ainda há quem lhe queira dar benefício da dúvida. Ainda há quem seja mais papista que o "papa". Mas esta equipa do ministério da (des) educação equipara-se a uma megera que só sabe parir monstruosidades. A última de que tive conhecimento noticia-a o jornal Público, edição on-line.
No concurso para professor titular impõem-se regras, injustas, com efeitos retroactivos. Segundo a proposta enviada aos sindicatos, as faltas dadas nos últimos anos -entre 1999 e 2006 - terão um peso importante. A meio do jogo, desrespeitam-se princípios legais com um único fim: considerar os professores uns seres desprezíveis. Mas não julguem os "talibans" ministeriais que pululam por aí [nas Escolas também...] que são apenas consideradas as faltas por desconto no período de férias, por um atraso imprevisível...nada disso. As faltas por doença, justificadas com atestado médico, entram para essa avaliação. Um professor que tenha estado doente, uma cirurgia, por exemplo, e tenha faltado 10 dias por ano, terá 0 ( ZERO !) pontos na classificação da assiduidade.
Já não basta o direito à indignação! É preciso varrer esta ameba do ministério! E já!

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Comunicação Social e manipulação

Deambulando pela blogosfera, não resisto a transcrever os comentários do Blasfemias acerca do "politicamente correcto".

Demissões

Carmona Rodrigues - absolutamente necessária para o futuro de Lisboa
Romano Prodi - uma grande perda
Alberto João Jardim - uma asneira
Salvaterra de Magos - Cabala

Com muito menos talento, tenho escrito alguma coisa sobre o assunto.

BOM DIA !

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21.2.07

A César o que é de César!

Todos conhecem o senhor Jardim. O dicionário não tem adjectivos suficientes para qualificar as suas diatribes. A comunicação social não se esquece dele e de o diabolizar. E o que se passa com o seu colega dos Açores? Esse não anda nos títulos das notícias.
Será que é diferente, bem comportadinho? Ou faz o mesmo pela calada...?
Consultemos o jornal "O Sol" de há uns tempos atrás:
- Carlos César anunciou, sem reservas, que não aplicará na Região o novo Estatuto da Carreira Docente.
- Quando o Governo da República assumiu as novas taxas moderadoras, Carlos César logo proclamou que os hospitais açorianos ficariam à margem destes aumentos.
- No início de Dezembro, um ajudante de Carlos César proclamou que os Açores não iam acatar a nova Lei de Bases do Desporto. É que os Açores têm as suas próprias leis, disse. A Assembleia da República que legisle para a República.
Isto feito de mansinho pia mais fino.O Governo socialista de Sócrates ouviu(?) e calou. Ah, se fosse Jardim, Lisboa metia-o na linha. Mas as afinidades e compadrios partidários...
Já Guterres em 1995 prometera baixar os custos das viagens de e para os Açores em vésperas de eleições. E não é que o PS as ganhou!!! Não teve o mesmo discurso para a Madeira para Jardim as ganhar e poderem continuar com o "défice democrático".
Claro que a comunicação social só vê Jardim. Carlos César é um democrata: cumpre as leis como quer e lhe apetece.

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A palavra aos mais novos

Um mundo que tento melhorar


Um dia chuvoso
Com um poema descreverei
E pra longe eu irei…


De uma calma liberto a alma
De cada alma buscarei uma palavra,
De cada palavra tornarei uma expressão
De cada expressão virarei uma emoção


E para longe libertarei,
e com elas eu viajarei,
Pelo céu voarei
E para o alto subirei


Porque lá descreverei
E expressarei
Cada sensação
Cada emoção


E do alto verei
A tragédia, a destruição,
De um mundo sem coração


A paz eu procuro neste lugar,
Que é difícil de achar
Vou pra cá e pra lá
À procura de alguém pra me ajudar.


E descubro que neste mundo
Temos nós que nos ajudar
Para esse mundo melhorar
E isso se realizará, quando a todos preocupar,
A tristeza em cada olhar.

( Com um beijinho para a Ayllane Mayara, 12 anos)

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Que Raio de País!

Ao assistir às manifestações de protesto das populações raianas, na zona de Chaves, espanta-nos (?) a crueldade com que este governo tem tratado essas pessoas. Ninguém até hoje tinha ido tão longe no abandono e no convite à desertificação do interior. As áreas que distinguem um governo centrado e preocupado com as pessoas são, na minha opinião, a saúde e a educação. Ora, é precisamente nestes domínios que este (des)governo deixa a sua marca "progressista", para recorrer a palavras do próprio 1º ministro. Encerra Escolas, fecha urgências hospitalares, abandona centros de saúde... Tudo em nome da palavra mágica: gestão de recursos! É tudo varrido em nome do sacrossanto combate ao défice. Mas as mordomias do Terreiro do Paço, as comissões criadas para nada concluirem ( veja-se a vergonha com os estudos relativos ao aeroporto da Ota), o exército de assessores que cada membro do governo chama para os gabinetes, as reformas escandalosas de gestores públicos, a tudo isto fazem orelhas moucas.
E vem-me à memória a histeria da regionalização, em tempos não muito distantes, defendida precisamente pelo PS. Mas afinal o que querem estes senhores regionalizar? Ainda terão o arrojo de levantar de novo essa bandeira? Regionalizem os velhos e os caminhos de cabras que ainda restam...E coloquemm lá os caciques locais!
Ao "manguito" que o figurão da imagem parece fazer, apetece terminar com um comentário bem trágico: continue a fechar urgências, elas não são precisas para nada...afinal, as crianças estão a chegar aos hospitais já cadáveres.

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20.2.07

Pessoa na RTP 1!

Eu sei que a informação pode chegar um pouco atrasada. Mas não percam hoje, por volta das 23.15 h, o documentário sobre Fernando Pessoa, no âmbito co concurso "Os Grandes Portugueses".

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Alberto João

Alberto João Jardim apresentou a demissão do cargo de presidente do governo regional da Madeira. Caiu-lhe toda a gente em cima. Fica bem dizer mal da pessoa. O politicamente correcto é isto. O homem irrita tudo e todos. Polémico, excêntrico, demagogo. Como outros bem mais protegidos pela comunicação social. Sejamos claros:
  • em trinta anos, não perdeu eleições;
  • o nível de vida da população da Madeira cresceu a um ritmo muitíssimo superior a qualquer outra região do país;
  • o turismo madeirense tem a qualidade e o prestígio que envergonha o que se faz, por exemplo, no Algarve.
  • desde a primeira hora, se opôs à lei das finanças regionais. Com a sua promulgação, foi consequente: pediu a demissão. Sempre são 450 milhões de euros a menos até 2014!
Aqui d' el-rei que o homem está cada vez mais louco!
Os adversários sabem que o não derrotam em eleições. Podem invocar todas as tropelias em que ele é mestre. Mas ou se aceitam as regras do jogo democrático ou inventem outro sistema que não este. Mas digam-no preto no branco. Não se escudem em desculpas esfarrapadas enquanto assobiam para o lado.
E como tenho para mim que, com todos os defeitos, o sistema político mais democrático é o que assenta na realização de eleições e na consulta popular, aceite-se o desafio.
Ou isto de eleições só é valido quando os resultados são favoráveis às nossas cores?

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Tomem lá do O´Neill !



Carnaval

Vem ao baile vem ao baile

Pelo braço ou pelo nariz

Vem ao baile vem ao baile

E vais ver como te ris

Deixa a tristeza roer

As unhas de desespero

Deixa a verdade e o erro

Deixa tudo vem beber

Vem ao baile das palavras

Que se beijam desenlaçam

Palavras que ficam passam

Como a chuva nas vidraças

Vem ao baile oh tens de vir

E perder-te nos espelhos

Há outros muito mais velhos

Que ainda sabem sorrir

Vem ao baile da loucura

Vem desfazer-te do corpo

E quando caíres de borco

A tua alma é mais pura

Vem ao baile vem ao baile

Pelo chão ou pelo ar

Vem ao baile baile baile

E vais ver o que é bailar

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Desemprego em Portugal

Anda para aí alguma confusão no que respeita à taxa de desemprego. Segundo o INE, no ano de 2006, o desemprego subiu comparativamente a 2005, sofrendo um forte acréscimo no último trimestre de 2006 [ mais 9,9 % ].
Segundo o IEFP, em Janeiro de 2007, terá havido um decréscimo de 6,8 % no número de desempregados. Este instituto não esclarece, todavia, que 80 mil pessoas emigraram ou regressaram aos seus países de origem, deixando, por isso, de estar inscritos.
Como os números podem ser manipulados, ainda vamos ouvir o governo afirmar que a utópica criação de 150 mil empregos durante a legislatura está no bom caminho.
Só se for por via administrativa...
P.S. Já depois de publicado este comentário, chegou-me às mãos este documento que é bem esclarecedor da manipulação dos números. Consultar aqui. Ou neste Blog.

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19.2.07

Última hora!

Confirmando os rumores que circulavam pela net, nos últimos dias, o casal partiu em lua de mel, para parte incerta. A paixão há muito era conhecida no círculo de amigos mais próximos dos aventesmas. Ela vestia um taileur de Ana Salazar, enfeitado com florzinhas lilás, carteira Gucci; ele, fato Armani, gravata de seda e uma caixa de preservativos Durex. Na mala de viagem, um conjunto de diplomas para despacho:
- fim do congelamento das carreiras na função pública;
- fim das aulas de substituição;
- acesso imediato a professor titular;
- aumento do subsídio de almoço em 2 cêntimos;
- fim das cotas leiteiras para as vacas dos Açores;
Segundo a agência de notícias, Fiuza, o casal tem prevista a sua chegada para 2060, ano em que se prevê a anexão de Portugal pela China, consequência do protocolo assinado pelo noivo na sua derradeira visita enquanto chefe da manada.

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18.2.07

Política suja

O caso de corrupção na Câmara Municipal de Lisboa é paradigmático do estado pantanoso em que a política portuguesa se encontra. Primeiro foi o caso Bragaparques e as tentativas de suborno que a dita empresa promoveu junto de um vereador. Consequentemente, uma vereadora afecta à maioria, foi constituída arguida e demitiu-se. Nos últimos dias, veio a saber-se que um outro vereador há muito era arguido e nada dissera. Segundo consta, por pressão do PSD, demitiu-se também. A partir deste momento, tornou-se evidente a fragilidade da actual maioria na Câmara Municipal. Eleições antecipadas são, na minha opinião, o único caminho para tentar ultrapassar a situação.
É aqui que começam os jogos politiqueiros. Desde início, a Bloco de Esquerda (BE) exigiu eleições. É natural que assim tenha sido. Partido residual, vive, sobretudo, do protesto, do descontentamento popular. Ir a eleições é ganhar visibilidade, aproveitar tempo de antena, vender a imagem. Pode usar toda a demagogia, sabe que nunca será poder. O Partido Comunista(PC), considerando que a maioria não tem condições para gerir a Câmara, veio hoje, pela voz de Jerónimo de Sousa, afirmar que as eleições não são necessárias nem clarificadoras. Também o líder do CDS vem corroborar a tese do PC. O PS, no início, não queria eleições; agora já as admite. O PSD, e sobretudo Carmona Rodrigues, tenta, a todo o custo, levar o barco a bom porto. Os partidos do poder, PS e PSD, escondem-se num jogo de bastidores, medindo forças, tentando, à pressa, arranjar o melhor candidato.
Isto é, clarificar a situação é o que menos interessa aos actores políticos. Sobrelevam o interesse partidário ao interesse colectivo. E a Câmara de Lisboa não é uma qualquer. Pelo peso político e dinheiros que movimenta merece melhor.

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17.2.07

Osho

A razão é um esforço para conhecer o desconhecido e a intuição é o acontecer do incognoscível.
Penetrar no incognoscível é possível, mas explicá-lo não o é. O sentimento é possível; a explicação não o é.

Osho, Intuição

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16.2.07

Esta é um pouco maldosa...

A história foi-me contada há uns dias. A ministra da educação, como qualquer mortal, foi a uma consulta de especialidade, no caso, estomatologia. Chegada ao consultório, o médico convidou-a a deitar-se na marquesa. Um pouco admirada, lá fez o que lhe pediu o distinto clínico.
Nova ordem se seguiu:

- Queira afastar as pernas para a examinar!

A senhora ia tendo um desmaio. E desorientada, retorquiu:

- Mas eu vim a uma consulta de estomatologista!

- Pois sim- respondeu o médico- mas o meu colega faltou. Vim fazer uma substituição!

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D.Milu ataca de novo

A Ministra da Educação foi ontem à Assembleia da República explicar a extinção das provas globais no 9º ano de escolaridade. As justificações dadas não convencem e são até insultuosas para as escolas e, mais uma vez, para os professores. Afirmar que o peso de 25% que lhes é atribuído não tem qualquer significado porque daí não advêm resultados na "nota" (sic) não é sério. Acrescentou ainda que

“Nunca nenhum aluno chumbou por causa das provas globais”, garantiu.

Desminto totalmente esta afirmação leviana e manipuladora. Posso até adiantar que um meu familiar próximo, em anos anteriores, foi beneficiado com as mesmas, chegando a subir a classificação final em algumas disciplinas. E muitos outros casos deve haver.

Além disso, “eram provas internas às escolas e elaboradas pelos professores dessas escolas e dessas disciplinas, sem nenhuma intervenção externa”. Manter as provas globais “significaria dar às escolas sinais de facilitismo”.
Isto é, o trabalho pelos professores é igual a zero, só as provas feitas pelos doutos senhores do ministério valem. Como se tem visto nos últimos anos, com os recursos apresentados e erros vários em algumas provas...

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15.2.07

Apito Dourado

Com a nomeação da Drª Maria José Morgado, o processo Apito Dourado parece sair da letargia em que valentins e pintistas o queriam enredar e entrar em velocidade de cruzeiro. Depois de longos anos de domínio dos bastidores sujos do futebol, com o rol de "quinhentinhos", "chocolates", fruta", "café com leite" e outras metáforas que encobriam a podridão que grassava no meio, os sabichões andam, agora, muito calados. Ainda hoje se soube que o batoteiro-mor, Pinto da Costa, foi constituído arguido em mais um processo.
Confio na pessoa que dirige o processo e estou certo que levará a bom porto a sua missão.

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País "sui generis"

Portugal é (parece) um país constantemente adiado. Veja-se o que se está a passar com o pós-referendo de 11 de Fevereiro. Enquanto o Procurador-Geral da República, interpretando o significado do resultado, foi consequente e mandou suspender todos os processos judiciais respeitantes à interrupção voluntária da gravidez, a classe política, nomeadamente o PS, dá mostras de desorientação. Ficou com a criança no colo, salvo seja, e anda num emaranhado de contradições. Durante a campanha, ouviu-se uma ou outra voz isolada do lado do SIM a favor da instituição de uma comissão de aconselhamento às mulheres que pretendessem consumar o acto. Na noite da vitória, o Eng. Sócrates, talvez enebriado pela vitória, veio afirmar a necessidade de legislar no sentido de haver um prazo de aconselhamento. Logo no dia seguinte, o líder parlamentar do PS, Alberto Martins, desmente o "chefe" e disse que não era preciso aconselhamento algum. Liberalização, pura e simples. A gente ouve e não estranha, infelizmente. Já estamos habituados a este constante adiar. Entretanto, a Presidência da República já lançou o primeiro aviso.
Vamos esperar pelo que se vai passar na Assembleia da República e aos golpes de rins a que ainda vamos assistir.

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14.2.07

Poema de Amor

Como hoje se comemora o Dia dos Namorados, fica um poema de Eugénio de Andrade.


Respiro o teu corpo


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade

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Dia de S.Valentim

Serge Gainsbourg and Jane Birkin

Canção-ícone dos idos de 60.

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13.2.07

Ainda o referendo

O referendo do passado domingo merece-me mais uns breves comentários. A vitória do SIM foi incontestável. Ganhou em quase todos os distritos, aumentou a percentagem em todos os distritos em relação ao último referendo. A campanha do SIM revelou eficácia e a mensagem insistente na despenalização da mulher e pondo de parte outros aspectos ( note-se o “desaparecimento” do ministro Correia de Campos que deixou de falar nos custos para o de serviço nacional de saúde…) convenceram as pessoas. Pelo contrário, o NÃO aparecia muito mais dividido, com algumas franjas a roçarem um radicalismo que apenas prejudicou. Parabéns, portanto, ao SIM, e que as mulheres possam ser as únicas(?) beneficiárias da implementação da lei.
  • Alguns comentários mais radicais, ou menos esclarecidos, têm atacado a Igreja pelo empenho que revelou, pelas posições que tomou. Pelos princípios em que assenta a sua doutrina, não se esperaria outra coisa que não essa. Ainda ontem o Papa referia que a “justiça humana não se pode sobrepor à justiça divina”. Daí até se afirmar que os padres quase levaram pelas orelhas as “beatas” à mesa de voto vai uma grande distância. Basta verificar as percentagens de abstenção nos meios rurais do norte e centro para comprovar a falsidade (maldade) dessa afirmação. É curioso constatar que não se comentem os resultados do SIM em distritos como Beja, Évora ou Setúbal. Com valores a ultrapassar, em média, os 80% a favor do SIM, aqui não se fala em manipulação, em “pessoas menos esclarecidas”, em seguidismo “ religioso”. Concelhos como Aljustrel ou Alcácer do Sal votaram 90% SIM. Nem faço mais comentários…Cada um retire as conclusões que quiser.

  • Outro aspecto menos falado tem a ver com a posição dos partidos políticos. O único que não tomou posição oficial foi o PSD. Significativo da pluralidade de opiniões, o facto de cerca de 30 deputados terem tomado posições a favor do SIM. Quando se fala em unanimismo da chamada Direita, aqui está um exemplo a desmentir essas mentes pseudo iluminadas. A este propósito, onde estavam os deputados PS do meu distrito, como José Junqueiro ou Miguel Ginestal, que em 1998 se fizeram ouvir a favor do NÃO (as costas estavam protegidas por Guterres…) e agora, que eu visse ou ouvisse, entraram mudos e saíram calados. O lugarzinho….o tachinho…

  • Como se previa, a guerra começou. As intenções em abrir clínicas privadas aí estão. O negócio parece ser chorudo. Aí, no segredo das quatro paredes, não haverá objectores de consciência, nem listas de espera. O vil metal falará mais alto.

11.2.07

Apresentação do livro de Rui Fonseca


Aceitando um amável convite, assisti, no passado sábado, na livraria Pretexto, em Viseu, à apresentação do livro do escritor Rui Fonseca, "Portugal e e o Quinto Império Por Cumprir" ( zian editora). A temática interessa-me por questões profissionais, mas também pela filosofia subjacente ao mito do Quinto Império. A busca desta utopia implica um aperfeiçoamento do ser humano, nas suas diversas vertentes, e assenta no conceito da "cidadania planetária", nas palavras de Jan Val Ellam.
Rui Fonseca, numa linguagem acessível mas rigorosa, fundamenta as suas teses em figuras maiores da literatura e filosofia portuguesas, considerando que a edificação do Quinto Império não se confina ao espaço geográfico de Portugal, mas ao espaço maior da Língua Portuguesa. Parabéns ao autor.
É a Hora!

Vitória do SIM

O resultado do referendo deu a vitória ao SIM. Democraticamente, aceito os resultados. Saúdo os vencedores e espero que os resultados anunciados se concretizem no nosso "eficaz" serviço nacional de saúde.

9.2.07

A Fotografia

Spencer Platt, fotógrafo americano da agência Getty Images, venceu o World Press Photo 2006. A imagem escolhida mostra, em primeiro plano, um grupo de libaneses a passear-se em Beirute num descapotável vermelho no meio da devastação, depois dos bombardeamentos da aviação israelita. Foto: Spencer Platt/Getty

( Foto retirada do jornal Público)

Notícias da cultura

Um grupo de pessoas que integra professores, bibliotecários, psicólogos, jornalistas, lançou um portal, a Casa da Leitura. O objectivo é oferecer não apenas a recensão de mais de 500 títulos de literatura para a infância e juventude, organizados segundo faixas etárias e temas, com actualização periódica semanal, como desenvolve temas, biografias e bibliografias. Em simultâneo, responde às dúvidas mais comuns sugerindo um conjunto de práticas destinadas às famílias e aos mediadores. Esta iniciativa tem o apoio da Fundação Caloute Gulbenkian.De visita obrigatória.
Este fim de semana, sexta e sábado, o Teatro Viriato, em Viseu, leva à cena quatro dramatículos de Samuel Beckett, um dos mais importantes dramaturgos do século XX, precursor do chamado teatro do absurdo. Em 1969 ganhou o Prémio Nobel da Literatura. A não perder.

Manifesto Anti-Dantas, por Mário Viegas

O grupo do Orpheu, nascido no início do século XX, integrou nomes grandes do Modernismo português, como Fernando Pessoa, Mário Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Raul Leal, Luís de Montalvor, Santa-Rita Pintor, entre outros. O objectivo destes vanguardistas era criar uma arte cosmopolita no tempo e no espaço. Por mais diferenças que haja entre si, este grupo identifica-se por um conjunto de factores comuns, a saber: fragmentação do Eu; transgressão dos tabus éticos; nova consciência do mundo provocada pelo poder da Máquina; a recusa de um código linguístico convencional e a descoberta da criação literária como a grande aventura da vida; a busca de uma obra poética que, a par do seu valor estético, apresentasse uma concepção filosófica do Ser; o repúdio pelas ideias feitas, pelo convencional.
É neste contexto que Almada Negreiros publica, em 1915, o Manifesto Anti-Dantas, onde satiriza, de uma forma mordaz, a literatura retrógrada simbolizada na figura de Júlio Dantas.
Vale, portanto, a pena ouvir esse Manifesto, na voz inconfundível do saudoso Mário Viegas.

8.2.07

A vida

Luís Fernando Veríssimo nasceu em 26 de Setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil Filho do grande escritor Érico Veríssimo, iniciou os seus estudos no Instituto Porto Alegre, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando lá morou, em virtude de seu pai ter ido leccionar numa Universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone.
Na opinião de muitos, Luís Verissimo é uma fábrica de fazer humor. Muito e bom. É sempre com redobrada atenção que leio os textos que me chegam. Aqui fica um deles.
O que estamos fazendo da nossa VIDA??
Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C.
Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água.
E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é,
mas que aos bilhões, ajudam a digestão).
Cada dia uma Aspirina, previne infarto.
Uma taça de vinho tinto também.
Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso.
Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem.
O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e
tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra.
Muita, muitíssima fibra.
Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente.
E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada.
Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer.
Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da
laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental,
massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax.
Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um
equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai
passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia,
mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito.
As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia.
Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas
diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia
para comparar as informações.
Ah! E o sexo !
Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina.
Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução.
Isso leva tempo e nem estou falando de sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e
espero que você não tenha um bichinho de estimação.
Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo
tempo!!!
Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes.
Chame os amigos junto com os seus pais.
Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher na cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao
banheiro.
E já que vou, levo um jornal...
Tchau...
Se sobrar um tempinho, me manda um e-mail.
Tenham um ótimo dia!!!

Os SPO na ESEN


Devemos partir da concepção que a vida na Escola, hoje em dia, é complexa, cheia de acontecimentos de variada ordem, distante da homogeneidade de pensamentos e práticas de outros tempos. É construída no conjunto das relações quotidianas entre os seus diversos protagonistas: alunos, professores, funcionários, pais e encarregados de educação. Cada uma dessas pessoas representa as suas práticas escolares através de uma série de crenças, expectativas, desejos, temores, experiências vividas e saberes compartilhados.
É nessa "malha" de relações e anseios que situamos o papel determinante dos Serviços de Psicologia e Orientação (SPO).
Desde que sou professor na Escola Secundária de Emídio Navarro de Viseu (ESEN), sempre recorri aos SPO e para lá encaminhei muitos alunos, sempre que o julguei necessário. E sempre obtive respostas positivas às solicitações. O rosto deste serviço tem sido a Dr.ª Filomena Gato (não posso esquecer, por uma questão de justiça, os ex-colaboradores, a Dr.ª Helena Mimoso e o Dr.º Paulo Pereira). Aliando a sua competência a uma disponibilidade permanente, a Dr.ª Filomena Gato desempenha um papel fundamental na integração de alunos, no atendimento personalizado, no encaminhamento de casos mais problemáticos, num sem número de actividades que toda a comunidade educativa tem valorizado ao longo dos anos.
Uma das iniciativas levadas a efeito no decorrer deste ano lectivo é o chamado Voluntariado na Escola – queres ajudar a estudar?
O objectivo principal é o de, alunos mais velhos, ajudarem os alunos do 10.º ano que manifestem dificuldades no estudo e na integração escolar. As actividades a desenvolver passam pelo apoio nas tarefas escolares, seja a tirar dúvidas ou acompanhar na realização de trabalhos de casa, a ajudar a estudar, seja em conversas informais sobre dificuldades pessoais ou outras que se julguem pertinentes. Com isto, pretende-se criar e reforçar laços de solidariedade social, aceitando que a relação e comunicação entre colegas pode ser um factor de desenvolvimento e crescimento pessoal com implicações positivas no sucesso escolar.
A iniciativa tem percorrido o caminho esperado e, no momento de fazer uma avaliação mais rigorosa, se saberá se atingiu os objectivos a que se propôs.
Não posso deixar referir os alunos/mentores que, voluntariamente, dão concretização a esta iniciativa. Aqui ficam os seus nomes: Pedro Santos, 12ºB, William Almeida, 12ºC, Sandra Correia, 12º D, Rui Matos,12º D, Diana Albuquerque, 12º F, Soraia Rebelo, 12º F, Nuno Miranda, 12ºL, João Farias, 12ºL e Clara Borges do 11º A.

7.2.07

Governo PS

Este governo é PS. Sejamos claros. Não é um qualquer extraterrestre. Por fazer asneiras e disparates, não perde o rótulo.
Acabo de ouvir no Telejornal, RTP.
  • Apresentada na Assembleia da República uma proposta para atribuir subsídio de desemprego aos funcionários públicos ( fonte sindical estima em cem mil o número de trabalhadores que podem estar em risco de perder o trabalho). O Partido Socialista votou contra a proposta.
  • Apresentada na Assembleia da República uma proposta para atribuir subsídio de desemprego aos docentes universitários que devem perder o trabalho -estima-se em dez mil. O Partido Socialista votou contra a proposta.

Humor colorido


Desde que o ministro Manuel Pinho convidou os empresários chineses a investir em Portugal devido aos baixos salários, eu, definitivamente, opto pelo "choque tecnológico". Então agora com quadro interactivo na escola!!!

Aborto (VII)

Porque é um texto escrito com emoção...que também deve haver; porque é um texto escrito com fundamentações e argumentos que nos fazem pensar; porque a pergunta não pode, na minha opinião, ter uma resposta tão simplista como nos querem fazer crer e tem outros factores associados. Aqui deixo o texto de Graça Franco, publicado no jornal Público de 5 de Fevereiro.
O que me impressionou foi o silêncio. Espesso. Pesado. Agarrado às cadeiras rotativas do estúdio como se lhes roubasse de repente o movimento. E só por isso volto ao tema. O tom inquisidor produzira efeito. E eu, em casa, acordando para "a culpa" a responder à intimação de dedo em riste, que me vinha do lado de lá do televisor, num apressado exame de consciência: será que eu soube alguma vez de um aborto realizado por alguém próximo ou longínquo e, "em coerência" (segundo a invectiva de Vital Moreira), não me agarrei de imediato ao telefone para denunciar o crime e exigir a rápida punição dos envolvidos?
E não é que não? Mesmo sem localizar com clareza o momento exacto (quem sabe os meus amigos me poupam a um certo tipo de desabafos... ou no meu meio "privilegiado" essa não seja mesmo a solução corrente!). Tenho a certeza que não. Dei comigo, aliás, a constatar que a figura de denunciante não faz o meu género. Excepto uma meia dúzia de vezes e sempre pelo mesmo motivo. Como daquela vez que já aqui contei. Nos idos de Abril. Quando o Ribeiro espancou, pela milionésima vez, a pobre D. Esmeralda. Veio-me de novo à ideia a figurinha da senhora, frágil, no seu casaquinho de malha preto, num luto antecipado por si própria. E estremeci à ideia de o Ribeiro poder alguma vez ter exigido à pobre senhora que abortasse? Era bem capaz! A avaliar pela descrição do bicho e pela amostra que presenciei. E iria eu apontar o dedo à D. Esmeralda, perante o escárnio do vómito do Ribeiro?
De repente, apeteceu-me estar também nos Prós e Contras. Só para saber se, por acaso, naquele palco, naquela plateia, também o silêncio responderia a esta questão: quem sabendo que alguém das suas relações próximas, ou remotas, era vítima sistemática de violência doméstica (sendo regularmente insultada, maltratada, violentada, espancada, etc...) já tinha denunciado o criminoso, enviando-o com guia de marcha para o merecido calabouço? A violência doméstica já é crime!
Quantos diriam SIM? Muitos, poucos? Nenhuns? Ou na sala perpassaria o mesmo silêncio pesado? A esvair-se pelos cantos das bocas em trejeitos de culpa? Ou o silêncio daria antes lugar a um risinho nervoso, incomodado? Do género: Eu? Se já denunciei o senhor juiz do oitavo andar? O polícia do quarto? O primo Óscar? O pai da Ana da turma da Joaninha? O Sousa? Se já fiz queixa à polícia do patrão? E com que provas? Arriscando-me à fúria da família? Aos escândalos à minha porta. Com a mulher chorosa invectivando-me porque lhe roubara a companhia do "monstro que ela amava" e lhe deixava os filhos sem educação. Já para não falar da humilhação causada aos descendentes do polícia ou do juiz que assim os veriam enviados para a cadeia pelos respectivos pares.
E antes do programa ir para intervalo talvez houvesse ainda tempo para perguntar à plateia se, mesmo assim, e sem nos pretender transformar num país de "bufos", acreditavam que a lei podia, "criminalizando" essa ou outras condutas, ter algum efeito dissuasor? Útil pelo menos do ponto de vista da sinalética legal. Não que eu queira comparar aborto e violência doméstica, mas só para concluir que o facto de a sociedade pactuar com um certo tipo de comportamentos, aplicando simples censura moral, não é caso para os legitimar e, menos ainda, para os legalizar ou financiar com os nossos impostos. Pelo contrário, muitos progressos civilizacionais (e a luta contra a violência doméstica é um deles) podem passar exactamente pela opção oposta. Por quebrar esse pacto social e um belo dia dizer: Basta!
Como escrevia Jacinto Lucas Pires, "do que se trata é de discutir se o direito deve ter um fundamento ético mínimo ou se é apenas a regulação convencional do "facto consumado".Partilho com o cronista do DN o escândalo perante o baixar de braços, nesta batalha, dos que se dizem de esquerda. Os que consideram que a sua luta em defesa dos mais pobres e dos mais fracos não passa por lhes garantir todos os meios para poderem responsavelmente exercer o direito a ter o número de filhos que muito bem entenderem, mas por lhes oferecer "grátis" nos hospitais públicos o "desembaraço" daqueles a quem não poderão alimentar com o fruto do seu trabalho.
Se eu fosse uma daquelas mulheres trabalhadoras a que se referia Jerónimo de Sousa no seu discurso pró-SIM, forçadas a abortar porque a alternativa é perder o emprego ou passar a entregar todo o seu salário para pagar uma creche, não queria que ele lutasse pelo meu direito a abortar. O que eu exigiria a um dirigente comunista era a defesa do direito de todas as mulheres trabalhadoras a não serem despedidas quando engravidam, a serem reintegradas depois da gravidez e a disporem de creches gratuitas, horários de trabalho compatíveis, salários justos e apoios estatais à maternidade, reconhecendo-a como um bem económico e social precioso. A tudo isso eu voto SIM.
Mas o que vai a votos não é isso, e, embora paga com os nossos impostos a liberalização do aborto até às dez semanas, é uma medida bem mais fácil e baratinha do que uma política de intervenção social de apoio à maternidade das mulheres trabalhadoras (do tipo das adoptadas por Blair na Grã-Bretanha, pelos socialistas franceses ou pelo actual Governo alemão). Em Portugal o que vai a votos é a típica medida de cariz liberal e capitalista que Jerónimo de Sousa não deixaria de rotular, noutras circunstâncias, "da direita". As clínicas privadas de abortos passarão a ser parcialmente sustentadas com as verbas desviadas do SNS. Rentabiliza-se-lhes o negócio e, em contrapartida, passarão a pagar IRC, coisa que actualmente, por "falta de eficiência fiscal", ainda não se consegue cobrar às abortadeiras de vãos de escada.
Mas o PC, como a extrema-esquerda e como alguns intelectuais, como Lídia Jorge, argumentam hoje com os mesmos dados do problema de há trinta anos (como se ainda não houvesse ecografias num mundo das ecografias a 4D), como se a informação e contracepção não estivesse generalizada. Falar hoje de "coisa humana" não é um insulto à "coisa" é sobretudo um insulto ao estádio actual da evolução da ciência e ao grau de conhecimento da humanidade. Se "coisa" fosse, porque se consideraria "dramática" a sua eliminação? O drama resulta de se saber que aquela vida, com olhos, braços, pernas, e coração a bater é um filho. E essa "eliminação" tem nome. E coração é coração, por muito que aquele senhor dos Médicos pela Escolha venha agora dizer que o órgão que qualquer mãe ouve bater na primeira ecografia a não sei quantas pulsações por minuto é apenas e tão-só uma outra "coisa" qualquer. Demagogia sem limites!
Não é por acaso que na tal Europa desenvolvida, a que aprovou há trinta anos leis liberalizadoras (desconhecendo nessa ocasião o que hoje os neonatologistas nos mostram até à exaustão) a experimentação embrionária é proibida a partir do 14.º dia e não até às dez semanas. Porquê? Óbvio não é?
Dia 11 vai perguntar-se aos portugueses se dizem sim ou não a uma pergunta múltipla, confusa e ambígua. Creio mesmo que poderia ter sido com vantagem substituída por três: É favorável à despenalização, em certas circunstâncias, da mulher que aborte? É favorável à liberalização do aborto (a pedido da mulher e sem invocação de nenhum motivo) desde que praticado até às dez semanas? E finalmente: Acha que o aborto deve ser livre e gratuito nos hospitais públicos desde que praticado até às dez semanas? Assim ficava tudo mais claro. Eu responderia Sim, Não, Não. O que obviamente não é igual a SIM. Quando muito resulta em Assim Não! Como bem concluiu o professor Marcelo.
E dado que o professor já juntou um número de penalistas suficientes para resolver essa questão da ameaça da cadeia, pode o SIM dormir descansado e tranquilamente votar NÃO! Caso o que pretenda seja apenas conseguir a despenalização desejada das tais mulheres que abortam em estado de necessidade desculpante (como diz o prof. Freitas). Está conseguida. Basta ganhar o NÃO. A menos que a pergunta não seja directa e o que se pretenda seja mesmo a liberalização do aborto até às dez semanas, sem sequer estar sujeita ao aconselhamento dissuasor como na Alemanha, mas tão-só porque se considera ser esse "um direito da mulher". E até às dez semanas porque, pelo menos para já, não se tem coragem de ir mais longe como queria o PS no seu projecto inicial... É esse sim o meu receio e por isso votarei Não, Não, e uma vez mais NÃO!
Graça Franco, Público

Para reflectir

Abre-se a página da TSF e facilmente se constata a manipulação de informação. Um exemplo entre as dezenas ou centenas que se poderiam inventariar na imprensa portuguesa.
Milhares protestam contra Mari Alkatiri

Cerca de cinco centenas de timorenses estão a manifestar-se, em Dili, contra o ex-primeiro-ministro Mari Alkatiri. A ONU autorizou a marcha pela capital timorense, após verificar que os manifestantes não possuem armas.
Mais adiante, no desenvolvimento da notícia:
Cerca de 2500 timorenses estão concentrados em Dili, esta quarta-feira, numa manifestação contra o antigo primeiro-ministro Mari Alkatiri, por este ter anunciado o arquivamento do processo que o acusava de distribuição de armas a civis.
Afinal, em que ficamos?

6.2.07

Prémio Vergílio Ferreira 2007

O poeta, ficcionista, ensaísta e tradutor Vasco Graça Moura foi hoje galardoado pela Universidade de Évora com o Prémio Vergílio Ferreira 2007. Este ano, o júri decidiu outorgar a distinção a Vasco Graça Moura, nascido no Porto, em 1942, considerado "um dos nomes maiores da cultura portuguesa contemporânea".
O galardão pretende dar projecção e visibilidade às obras de ficção ou ensaio dos autores escolhidos e inclui uma componente pecuniária de cinco mil euros.
Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa em 1966, Vasco Graça Moura ainda chegou a exercer a profissão, para além de se ter dedicado também à política.
Publicou a sua primeira obra, "Modo Mudando", em 1963, a que se seguiram vários outros livros de poesia, ensaio, ficção, assim como uma peça de teatro ("Ronda dos Meninos Expostos", 1987), um diário ("As Circunstâncias Vividas", 1995) e as crónicas de "Papéis de Jornal" (1995).
As suas traduções de "Vita Nuova" e da "Divina Comédia", de Dante, valeram-lhe o Prémio Pessoa, em 1995.
O galardoado afirmou que «Qualquer prémio literário é importante para um autor e este foi uma instituição de grande prestígio a atribuí-lo [a Universidade de Évora]», realçou em declarações à Lusa o poeta de «Instrumentos para a Melancolia».
Como homenagem, deixo aqui um poema do premiado.
as sereias, as leves formas salinas nascendo da música
como chamas interiores das algas e das escusas geografias,
trazidas por ventos e motores, talvez despenhadas do pequeno avião
que ontem se avistava, na água têm meandros de aço róseo.
e tudo é de papel, anjos, tigres, barcos, a noite de areia e cinza.
a espuma atravessa a casca das coisas e
nasce dos bordos da pedra, onde o corpo se expõe
e vê nos seus antípodas os anjos. a luz, a liberdade
são densidades da alma, obscuro canto a vir
do mais fundo de todos os lados para a nave desorientada.
a passagem dos barcos, a azul e negro, as ondas,
tempo incessante de tépidas permutas, flâmulas
de seda a bifurcarem um vento plácido, a luz
de grandes sombras malva para a chegada súbita dos barcos
pelo golfo de tinta onde nadou ulisses.
Vasco Graça Moura, A furiosa paixão pelo tangível, Lisboa: Quetzal, 1987

Clinton (Remake)


Como se sabe, Hillary Clinton apresentou-se, há poucos dias, como candidata pelo Partido Democrata (P.D.), às eleições presidências americanas, no próximo ano. Logo uma certa euforia se gerou nos meios de comunicação, lá e cá. Estávamos perante a salvadora da Pátria e do Mundo! Não posso deixar de recordar a cara de espanto da inefável Judite de Sousa quando, na entrevista a António Vitorino na RTP, , este pôs algum travão nessa euforia e admitiu mesmo a possibilidade de nem sequer ser a citada senhora a candidata pelos Democratas.
Ouvinte assíduo do programa internacional da RR das quintas-feiras, das 23 às 24 h, fiquei bastante admirado com a resposta do comentador residente à questão da descida nas preferências, no P.D., de Hillary Clinton em relação a Barak Obama.
Segundo o referido comentador, e para meu espanto, o problema estava na "campanha caluniosa" contra os Clinton!!!
Mas que campanha? Nos últimos tempos não se ouviram críticas aos Clinton; antes pelo contrário, Hillary era apresentada como uma espécie de "D.Sebastião" americano que iria acabar com o terrorismo no mundo, a guerra no Iraque e todos os demais problemas dos EUA. É bom relembrar que os grandes meios de comunicação social americanos costumam alinhar com o P.D., como aconteceu nas últimas presidenciais em que, expressamente, apoiaram Kerry.
Nada foi dito pelo comentador de serviço em termos de verdadeira análise política.
Será, portanto, pertinente, ter presente que os Clinton não são inimputáveis, nem podem viver na impunidade, ainda para mais nos EUA onde a imprensa se constitui, na realidade, como quarto poder e tudo é averiguado.
Basta pensar o que se passou na presidência de Clinton, e o seu badalado caso com Mónica Lewinsky, para constatar como a imprensa americana foi branda e não descobriu um novo Watergate. É bom lembrar que Clinton cometeu perjúrio perante a Justiça, o que, nos EUA, (que levam a Justiça a sério) é muito grave.
E há outras ilegalidades que fazem parecer Nixon um menino de coro: o escândalo Whitewater-envolvendo operações imobiliárias no Arkansas-, e que levou ao suicídio de meia-dúzia de amigos do casal Clinton para não prejudicar a imagem de Bill-Presidente; o indulto a acusados de crime fiscal( que nos EUA também é levado a sério...) determinado por Bill Clinton, já depois de Bush ter ganho as eleições, e cujos advogados de defesa eram irmãos de Hillary…
Isto para não falar das tropas especiais(?) que Bill enviou para a Florida para retirar a criança cubana sobrevivente de naufrágio aos tios para a enviar para Cuba... Ou a recusa em aceitar a extradição de Osama Bin Laden, proposta pelo Sudão, onde estava refugiado em fins da década de 90, e que talvez tivesse evitado o 11/Setembro...

(Texto enviado por Francisco R.)

5.2.07

Prós e Contras

Afinal, decidi voltar e tecer um pequeno comentário. Acabei de assistir à 1ªparte do debate sobre o aborto. Excelente. Argumentos fortes, consistentes e bem fundamentados de um lado e do outro. Sem histeria, com civismo e elevação. Felizmente que argumentos mais radicais ou o recurso a uma linguagem mais agressiva têm estado ausentes. Assim vale a pena falar em srrviço público por parte da RTP. E como foi ( é) diferente o papel da moderadora quando comparado com um outro debate havido há uns meses sobre e estado da educação( cá estou eu a voltar ao tema, mas "aquela mulher" é o que merece...) onde umas pessoas foram escolhidas e outras vetadas pela equipa do ministério.
Espero sinceramente que o programa continue com o mesmo nível, embora a experiência me diga que as 2ª e 3ªpartes quase nunca atinjam a qualidade da primeira.

Etiquetas:

Eric Clapton

Vou assistir ao debate sobre o aborto, na RTP.
Fiquem bem. Boa noite.

http://www.youtube.com/watch?v=ZpiEPg9-4zc

4.2.07

Exemplo a seguir

O Correio da Manhã traz hoje uma entrevista ao drº António Câmara, Prémio Pessoa de 2006, que deve ler lida e analisada com interesse. Faz afirmações que explicam o sucesso de empresa que dirige, uma das mais conceituadas a nível mundial, no campo das novas tecnologias, e tece críticas em várias direcções, nomeadamente ao nosso endémico atavismo. Percebemos, se é que não tínhamos já consciência disso, que a qualidade do ensino e da investigação são alicerces fundamentais para o progresso de um país. O tema é um pouco redundante, até neste blog, mas a desorientação, o autoritarismo e o desprezo que a actual Ministra de Educação tem pela Escola, por muito que tente passar uma imagem contrária, são a causa primeira para o fracasso e o insucesso. Aqui deixo algumas passagens desta entrevista.
- O facto de ter estudado nos EUA ajudou-o a ter outra visão do mundo, nomeadamente a de conciliar a academia com o mundo empresarial?
- Depois de termos estado nos EUA e vermos pessoas perfeitamente normais serem bem sucedidas, nós achamos que tudo é possível. Em Portugal, ao contrário, há esta atitude depressiva e incrivelmente exigente: esta atitude de que nada é possível.
- É também professor, ainda que do Ensino Universitário. O que pensa dos programas do Ensino Secundário?
- A disciplina mais mal ensinada em Portugal, com os piores programas, é língua portuguesa. E a língua portuguesa, mais do que a matemática, é o factor mais condicionante em tudo o resto. Usamos a matemática cinco por cento do tempo, mesmo nós na engenharia, e trabalhamos com a língua 95 por cento do tempo. O ensino do português, algo que é verdadeiramente fundamental, como ler, escrever, raciocinar, é feito de uma forma muito pouco intensiva.
- Em que sentido?
- O meu filho esteve a estudar nos EUA e eu comparei os programas. A diferença é atroz. Eles têm listas de leituras para os estudantes do Ensino Secundário e na escola onde o meu filho andou todos os miúdos aos 12 anos tinham de escrever um livro.
- E o Ensino Superior?
- Também tem de ser mudado radicalmente. Nós ainda estamos a ensinar como nos tempos medievais, apesar de haver excepções. O que se passa é que o sistema de ensino é baseado num modelo de infecção. Os alunos têm as aulas, os testes e portanto são infectados nas aulas e os testes testam a infecção. O modelo das melhores escolas do Mundo é de imersão. Os alunos fazem trabalhos todos os dias, têm projectos, são acompanhados, ou seja, estão imersos na cadeira. Têm desafios. Curiosamente, onde temos as melhores escolas é no desporto.
- Como é que saem então os alunos das universidades?
- Apesar de tudo os licenciados das melhores universidades portuguesas têm uma qualidade semelhante à dos colegas europeus. O problema é que durante anos as universidade formavam pessoas para serem empregadas. As melhores universidades, como o MIT (Massachusetts Institute of Technology), preparam as pessoas para serem líderes. Preparam-nos para serem empreendedores. O que falta nas universidades portuguesas é formação para que as pessoas sejam autónomas, independentes e para que estejam preparadas para criar um emprego próprio.
Perfil de António da Câmara: António Câmara, de 52 anos, é actualmente professor catedrático da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e chief executive officer (CEO) da Ydreams, que fundou em Junho de 2000. Trata-se de uma empresa que se dedica, entre outras áreas, ao desenvolvimento de jogos para telemóveis Entre os seus clientes encontram-se a Nokia, Vodafone e Adidas e terminou 2006 com 150 trabalhadores e 15 milhões de facturação. Casado e com dois filhos - e um gato chamado ‘Simba’ - adora basquetebol e ténis. Formou-se no Instituto Superior Técnico, mas foi nos Estados Unidos que fez o mestrado e o doutoramento, tendo concluído o pós-doutoramento no MIT. Regressou a Portugal, com saudades, como professor da Universidade Nova porque acreditou no potencial nacional.

3.2.07

Humor...



A Ministra da Educação estava apaixonada por Sócrates, mas este nem percebia (pudera!...).
Um dia depois do expediente, entrou na sala dele com um vestido provocante, bastante decotado e colante, fechou a porta atrás de si, caminhou languidamente até à mesa, com ares de Monica Lewinski e propos-lhe:

- Sr. Primeiro-ministro, vamos fazer uma sacanice?
- Vamos! Onde é que eu assino?

Para reflectir

"A escola e a universidade deixaram de ser o meio por excelência de ascensão social ou simplesmente de ganhar dinheiro. Nem alunos, nem pais lhe reconhecem qualquer valor".
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 3-2-2007
O primeiro ministro das Finanças deste Governo, Luís Campos e Cunha, considerou fruto de uma “dissonância cognitiva” a invocação pelo ministro Manuel Pinho dos salários baixos como uma “vantagem competitiva” do país.
Grande imaginação tem o ex-ministro das finanças...como eufemismo poucos diriam melhor!

2.2.07

Só à bomba, senhora ministra!

A equipa do Ministério da Educação!
(Com pedido de desculpa aos símios)










Ao abrir a edição on line do jornal Público apeteceu-me desistir! Aquilo que li ultrapassa em muito a ficção. Depois de todas as polémicas à volta da Terminologia Linguística do Ensino Básico e Secundário (TLEBS), julguei que houvesse algum decoro e bom senso! Mas não! A notícia aí estava: os alunos do 12ºano iriam ser testados, no exame final, em conceitos que remetem para a TLEBS! Cito parte da notícia:




  • "De acordo com as orientações definidas em Dezembro pelo Gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação para este exame, a prova deverá conter questões sobre termos como "coesão lexical por reiteração", "dêixis" e "quantificador relativo", introduzidos pela polémica terminologia."

Não se pode conter a raiva perante a cretinice desta atitude.

Depois de o próprio Ministério anunciar a decisão de acabar com esta experiência desastrosa no final deste ano lectivo;
depois de se considerar que a referida TLEBS enforma de incorrecções várias;
depois de se saber, pela boca do próprio secretário de estado que "a TLEBS que tem sido experimentada nas escolas tem inconsistências";


O MINISTÉRIO INSISTE NO ERRO!!!



Apetece parafrasear Miguel Torga e o seu poema Ar Livre, e livrar-nos daquela besta que ocupa a cadeira de ministra.

Ar livre, que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!


Ar livre, digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo! E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par, pois então!





Desgraçados alunos que têm de se sujeitar a uma criminosa como a Lurdes Rodrigues! Regressai Manuela Ferreira Leite, Couto dos Santos, Vítor Alves...estais perdoados!!!



Esta mulher merece ser enxovalhada na praça pública, merece ser decapitada para que nunca mais consiga pensar enormidades! Esta mulher não pode continuar a parir monstros legislativos!Basta! PUM! PUM!

1.2.07

As Palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.


Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, De Coração do Dia, 1958

Que Grande Charada!


Texto de um gajo que não queria ir à tropa:

Exmo Sr. Ministro da Defesa

Venho deste modo explicar-lhe uma situação delicada que tem vindo a ocorrer, de maneira a poder obter um eventual apoio vindo de VossaExa.

Tenho 24 anos e fui esta semana chamado para ir à tropa. Sou casado com uma viúva de 44 anos, mãe de uma jovem de 25 anos, da qual sou padrasto. O meu pai, por seu lado, casou-se com essa jovem em questão.

Neste momento, o meu pai passou a ser o meu genro, uma vez que se casou com a minha filha.
Deste modo, a minha filha, ou chamemos-lhe enteada, passou a ser minha madrasta, uma vez que é casada com o meu pai.

A minha esposa e eu tivemos, no mês passado, um filho. Esse filho tornou-se o irmão da mulher do meu pai, portanto o cunhado do meu pai. O que faz com que seja o meu tio, uma vez que é o irmão da minha madrasta. O meu filho é, portanto, o meu tio...

A mulher do meu pai teve no Natal um rapaz, que é, ao mesmo tempo o meu irmão, uma vez que ele é filho do meu pai, mas meu neto por ser o filho da minha enteada, filha da minha esposa.

- Desta maneira sou o irmão do meu neto!

E como o marido da mãe de uma pessoa é o pai da mesma, verifiquei que sou o pai da minha esposa, e o irmão do meu filho.

Resumindo: sou o meu avô!!!

Deste modo, Sr Ministro, peço-lhe que estude pacientemente o meu caso, porque a lei não permite que o pai, o filho, e o neto sejam chamados à tropa na mesma altura. Agradecendo antecipadamente a sua atenção, mando-lhe os meu melhores cumprimentos.